Abafa Berro

Eu não finjo, não mordo, não sou ativista, não tenho ideologia, não meto os pés nas mãos, não tenho porções mágicas. Tenho um berro abafado para quem tiver ouvidos mudos.

6/21/2006

Passado pássaro.

Parado na frente da porta do quarto, te vi como um pássaro, parado mas solto no ar.
Tuas mãos na cintura, teu cabelo arredio, teu ar superior.
Sobre o clima da escura noite eu te vi pela primeira vez alçar vôo. Foste tão alto, acima das nuvens não se enxerga mais nada.
Bem que tentei te avisar, mas suas asas foram mais rápidas que minha palavra terrena.
E eu vi o sonho, a loucura, a coleção de estrelas, fugirem pela porta que esqueceste entre aberta. O vento que entrou teve nova cor.
E eu me entreguei para o ar, para respirar o colorido e a angústia de ter pés e olhar pro céu.

6/11/2006

Entre Baratas, música incidental e caos urbano.


Texto escrito no mês passado depois de um dia difícil de locomoção na cidade. Nada de pernas, nem andar, as rodas e ferros guiam os caminhos.






No começo do mês de maio , a nossa cidade das mangueiras viveu um dia de caos no que diz respeito ao transporte e as vias de circulação locais. A chuva, aliada com a péssima situação de esgotos do entroncamento, chegou causando alagamentos e mais transtornos para quem queria chegar em casa depois de um dia de trabalho, ou para quem (no meu caso) queria ir para uma Universidade que fica bem distante do centro comercial.
Minha jornada começa às 5 horas da tarde, fico pouco mais de 1 hora na parada, esperando qualquer ônibus com a seguinte descrição “ BR”, em letras GARRAFAIS. Coisa que acontece, para a minha alegria e enorme vontade de estudar naquele dia. Eu realmente estava entusiasmada.
O ônibus veio completamente lotado.
“Ok. Vamos lá, dê-me força, ó deus.” Foi, o que pensei.
Entrei, e com muito esforço passei a roleta, me esfregando por todos os corpos suados e exaustos, (nessa hora meu perfume já nem se sentia),mas eu fui com força e perseverança, tentar alcançar o máximo do fim do daquele imenso corredor humano que parecia nunca acabar. Fiquei pela metade. Os fartos quadris de uma senhora não me deixaram prosseguir a caminhada.
“Ok. Vamos lá, continue me dando forças, ó deus”. Foi o que pensei.
Já eram quase 7 horas e o ônibus se movimentava meio metro por minuto, eu já estava preocupada em não chegar. A janela fechada,os vidros embaçados, (uma sauna praticamente) e caía um toró lá fora.
Pelos lados de ferro, havia apenas baratas a passear, felizes com o clima agradável, quentinho. E muito bem alimentadas dos pingos gostosos de suor que saiam do nosso corpo.
Entre o som de buzinas , xingamentos e motores ferozes, dentro daquele abençoado “40 horas Ver-o-Peso”, havia um som incomum. Uma flauta, isso mesmo,música-urbana-incidental de primeira qualidade. O som vinha de trás,leve,da boca de um menino moreno. Parecia querer acalmar todos ânimos e treinar os ouvidos para tons mais agradáveis, mesmo que estes fossem a escala Dó-ré-mi, de trás pra frente e de frente pra trás.Eu juro que só permaneci durante mais 1 hora dentro do ônibus por ele. Parecia cena de filme, isso tinha de ser contado.
E então, as 8 e meia da noite eu pensei: “Ok. Já deu, ó deus.” E desci, de sombrinha na mão e com deus no coração.E o vento e o clima da minha cidade nunca foram sentidos tão intensamente do lado de fora.
Depois de quase 4 horas de tormento misturado com nostalgia, com pensamentos rápidos, cheiros e sons diversos, tudo o que eu mais queria era chegar no “Lar Doce Lar”.E pedir antes de dormir, nas próximas orações, um helicóptero, para Deus Pai todo poderoso.