Abafa Berro

Eu não finjo, não mordo, não sou ativista, não tenho ideologia, não meto os pés nas mãos, não tenho porções mágicas. Tenho um berro abafado para quem tiver ouvidos mudos.

5/29/2006

Crônica-dor de domingo para um segundo: Segunda mais feliz.



Um dia ela acordou, se olhou no espelho e resolveu mudar. Pintou os olhos com maquiagem bem escura, colocou os longos cabelos dentro do chapéu,calçou salto alto ,vestiu um antigo vestido de bolinhas e saiu a caminhar sem rumo, naquela bela manhã de domingo.
Não sabia o que procurava,não sabia o que pensar, mas de algo tinha certeza: As ruas de pedra por onde o salto fino se equilibrava, faziam-a um pouco mais mulher e os olhos com que cruzava, mais humana.
Parada em um cruzamento de ruas: Um cachorro na outra esquina, um mendigo na sargeta, um carro passando disparado, cortando o vento e levantando seus cabelos...Veio uma vontade súbita de atravessar,sem pena de si,arrancando a lentidão do peito sentimental.
Ela não tinha como voltar, era outra, o lugar de antes já não cabia dentro dela, a poça de água no chão de asfalto refletia a nova mulher, o claro do dia abriu a visão do obscuro. E a noite chegou, e ela sem pressa, travessa, atravessa o rumo dos seus dias, e as ruas que por aí virão.
Pintou a cidade com a cor dos seus olhos,colocou as longas crenças dentro do chapéu,calçou as confortáveis sandálias de vento e vestiu o novo traje de si mesma, e continuou a caminhada, naquela bela manhã, de um claro domingo, de uma semana qualquer, numa cidade distante, num beco sem saída, numa casa sem numéro, onde estava ela,intacta,na cama de sonhos.


*Imagem: "Caminho Tortuoso" de Osvaldo Luiz Pastorelli.

1 Comentários:

  • Às 10:24 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Incrível como um segundo pode mudar tudo ;o)

    Adorei!!

    Beijos! ;o****

     

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